(Carlos Eduardo)
A série de palestras promovida pela Cátedra da PUC no âmbito do curso “A Produção do Livro” atingiu seu ápice – até o presente momento – com a presença de três representantes do mercado editorial no último dia 06 de maio.
Com bom humor e uma certa intimidade, o jornalista e autor Domingos Meirelles, a revisora Fátima Barbosa e a designer e artista plástica Sandra Pinta expuseram certos meandros do mercado; principalmente no que tange à criação do livro como produto.
“Cuidado” parece ser a palavra de ordem na exposição de Meirelles em relação ao processo de criação de um livro; do “descobrimento” do tema às demais manipulações da obra, passando por obstáculos ou boas surpresas, tais como a cadência de cada capítulo, a via crucis da pesquisa, e os desdobramentos da escolha da capa. Mesmo com boas tiragens de seus dois livros – “A Noite das Grandes Fogueiras” e “1930” –, o próprio autor argumenta que aqueles palestrantes são “profissionais que fogem da média”.
Em tom apaixonado, Fátima Barbosa concorda com o aspecto traiçoeiro do mercado editorial, e enfatiza que a árdua “carpintaria” do texto trabalhada na função do revisor não raro é mal entendida tanto pelo público quanto por profissionais do meio.
Sandra Pinta, por sua vez, destaca o exercício de adequação, sedução e emoção, além da busca de um conceito (“50% do trabalho”, segundo ela) para a capa. Nem sempre a parte técnica corresponde ao gosto pessoal.
A julgar pelo agradável debate entre as partes, o mercado editorial ainda tem lá suas armadilhas.
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sexta-feira, 28 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
A experiência conta
por: Mônica Ferreira
O jornalista e escritor Domingos Meirelles contou um pouco de sua experiência como autor dos livros, As Noites das Grandes Fogueiras. Uma História da Coluna Prestes (Prêmio Jabuti/Melhor Reportagem de 1996) e “1930 - Os Órfãos da Revolução”. Ganhou o Jabuti de 2006, na categoria Ciências Humanas. Meirelles relatou ainda durante o seu discurso como foi a criação do livro, os personagens, capa, conteúdo e até mesmo sobre a recepção dos leitores. Um fato que desperta a atenção de Meirelles e ao mesmo tempo surpreende são os leitores surgindo de onde ele menos espera. Simpático e bem-humorado falou com propriedade de alguns de seus trabalhos ao longo de quase 45 anos de trajetória no jornalismo.
Logo após o discurso de Meirelles, foi a vez de Fátima, do copydesk, da editora Record falar um pouco das suas atividades. Pelo que entendi cabe a este profissional rever os textos com o objetivo de observar a sintaxe, ortografia e pontuação, adequando a linguagem aos padrões gramaticais. O desempenho deste profissional é bastante minucioso onde requer muita atenção, onde, diga-se de passagem, se faltar um (s) os leitores ligam para as editoras reclamando do erro ortográfico. De fato, é um trabalho primoroso.
Depois foi a vez de Sandra Pinta, designer gráfico mostrar alguns de seus trabalhos e explicar um pouco de suas criações. Entre tantos projetos gráficos mostrados em sala me surpreendo como ela consegue passar o conceito em seus trabalhos e conquistar autores, editores e o querido, leitor. Aprendi muito com ela.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Três profissionais do livro e dois dedos de prosa
Pedro Fortunato* escreveu dois livros por uma grande editora brasileira. Liana Abrantes* gerencia, pelo que pude entender, o setor de copidesque e revisão dessa editora. Helena Müller*, por sua vez, faz projetos gráficos para diversas editoras.
Fortunato é herdeiro de um certo jornalismo literário da saudosa revista Realidade (que por sua vez agregava profissionais querendo experimentar abaixo da linha do Equador o que Gay Talese, Tom Wolfe e Truman Capote já haviam consagrado como Novo Jornalismo nos EUA na década de 1950 e início da década de 1960). Profissional experiente, passou pela mídia impressa e televisiva, imprimindo autoria bem particular na construção de sua trajetória. Como autor, mostrou-se diferenciado pela preocupação com o processo de produção do livro, algo não muito comum entre os escritores. Cuidados como o ponto de vista da narrativa, as escolhas para construir verossimilhança, e, mais que isso, seduzir o leitor, são constantes no que se pôde verificar em sua fala. Não tive dúvida de que estava diante de um verdadeiro profissional do livro. Nenhuma ingenuidade. Que mal há, afinal, em aliar competência, estilo e, por que não, uma maneira de seduzir desde as primeiras linhas o leitor? Se se escreve um livro, ele deve ser lido! Vendido, pois!
Palmas para o Fortunato, aprendamos com ele.
Abrantes me assusta. São mais de 30 anos trabalhando com revisão de livros, seja metendo a mão na massa seja cuidando para que outros, sob sua supervisão, o façam. Sua fala parece ser desajustada com seu pensamento, pouco se compreende daquilo que parece formular. Sua fala claudica porque seu pensamento parece claudicar. Será alguma espécie de afasia, será nervosismo por falar em público? As duas coisas? Nenhuma das duas? O que seria aquilo afinal? Um breve encontro foi muito pouco para saber ao certo o quereria dizer aquela profissional que, certamente, tem competência. Ninguém ficaria tanto tempo no mercado, se incompetente fosse. Mas, o certo, é que, pelo que ela conseguiu mostrar no desempenho da sua fala, a decepção foi minha. Fiquei pensando naquilo que tanto ela, saudosa, se ressentia nos leitores contemporâneos: “Os leitores eram contemplativos!” Será que de tão contemplativa, Abrantes tem dificuldade de intervir no biopsicossocial do mundo? Se for esse o caso, não será o caso de se ter o cuidado de não a convidar para encontros como esse? O tetê-à-tête talvez seja o segredo. Serei obrigado, provisoriamente, a me contentar com o mistério.
Müller é uma profissional experiente. Conhece o seu métier. Sabe de suas limitações, e tira partido disso. Estabelece caminhos variados para desenvolver seus projetos gráficos. Parece transitar habilidosamente pelos cômodos nem sempre confortáveis em que habitam os partícipes da produção editorial. Gostaria de, sem nenhuma dúvida, conhecer mais profissionais desse calibre.
* As personagens do texto aparecem sob pseudônimo, por conta de juízos de valor apontados, aqui e ali, desfavoráveis. São-me caras, em vez disso, as reflexões que podem ser feitas sobre as falas por elas produzidas.
Fortunato é herdeiro de um certo jornalismo literário da saudosa revista Realidade (que por sua vez agregava profissionais querendo experimentar abaixo da linha do Equador o que Gay Talese, Tom Wolfe e Truman Capote já haviam consagrado como Novo Jornalismo nos EUA na década de 1950 e início da década de 1960). Profissional experiente, passou pela mídia impressa e televisiva, imprimindo autoria bem particular na construção de sua trajetória. Como autor, mostrou-se diferenciado pela preocupação com o processo de produção do livro, algo não muito comum entre os escritores. Cuidados como o ponto de vista da narrativa, as escolhas para construir verossimilhança, e, mais que isso, seduzir o leitor, são constantes no que se pôde verificar em sua fala. Não tive dúvida de que estava diante de um verdadeiro profissional do livro. Nenhuma ingenuidade. Que mal há, afinal, em aliar competência, estilo e, por que não, uma maneira de seduzir desde as primeiras linhas o leitor? Se se escreve um livro, ele deve ser lido! Vendido, pois!
Palmas para o Fortunato, aprendamos com ele.
Abrantes me assusta. São mais de 30 anos trabalhando com revisão de livros, seja metendo a mão na massa seja cuidando para que outros, sob sua supervisão, o façam. Sua fala parece ser desajustada com seu pensamento, pouco se compreende daquilo que parece formular. Sua fala claudica porque seu pensamento parece claudicar. Será alguma espécie de afasia, será nervosismo por falar em público? As duas coisas? Nenhuma das duas? O que seria aquilo afinal? Um breve encontro foi muito pouco para saber ao certo o quereria dizer aquela profissional que, certamente, tem competência. Ninguém ficaria tanto tempo no mercado, se incompetente fosse. Mas, o certo, é que, pelo que ela conseguiu mostrar no desempenho da sua fala, a decepção foi minha. Fiquei pensando naquilo que tanto ela, saudosa, se ressentia nos leitores contemporâneos: “Os leitores eram contemplativos!” Será que de tão contemplativa, Abrantes tem dificuldade de intervir no biopsicossocial do mundo? Se for esse o caso, não será o caso de se ter o cuidado de não a convidar para encontros como esse? O tetê-à-tête talvez seja o segredo. Serei obrigado, provisoriamente, a me contentar com o mistério.
Müller é uma profissional experiente. Conhece o seu métier. Sabe de suas limitações, e tira partido disso. Estabelece caminhos variados para desenvolver seus projetos gráficos. Parece transitar habilidosamente pelos cômodos nem sempre confortáveis em que habitam os partícipes da produção editorial. Gostaria de, sem nenhuma dúvida, conhecer mais profissionais desse calibre.
* As personagens do texto aparecem sob pseudônimo, por conta de juízos de valor apontados, aqui e ali, desfavoráveis. São-me caras, em vez disso, as reflexões que podem ser feitas sobre as falas por elas produzidas.
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O encontro com Teodoro Koracakis foi-me muito produtivo. Saber, por exemplo, das ingerências editoriais na obra de Sérgio Sant'Anna foi algo enriquecedor. Ajudou a desmitificar uma certa visão idealizada a respeito de autores que produzem literatura canônica. Observar o produto livro a partir da ótica do editor é uma experiência singular. Suas escolhas, as consequências de seu planejamento (ou falta de) na composição mercadológica da editora auxiliam a construir o mosaico, parece sempre incompleto, da cadeia produtiva do livro.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Um breve negócio de ideias sobre o negócio do livro
Por Duda Costa
Muitos dos que, ao contrário desta que ora escreve, estiveram presentes na palestra do economista Fábio Sá Earp realizada na Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio no dia 13 de abril de 2010 destacaram, como aspecto geral da sua interessante abordagem, um tom, digamos, pessimista em relação ao negócio do livro no Brasil.
Em trabalho publicado em 2005, Fábio Sá Earp e George Kornis (2005) são categóricos ao afirmar que o “problema básico da economia do livro é [...] um descompasso entre a imensa oferta global e a limitadíssima capacidade de absorção do consumidor individual”. E parece ser esta a chave a abrir e fundamentar a sua pesquisa: a identificação do(s) problema(s) do negócio do livro em nosso país.
Para explicar este impasse inicial de que a oferta e a demanda do livro estão longe de ser equilibradas, os autores apresentam duas razões. A primeira: “o livro é um bem muito barato de se produzir”. A segunda: “não há nada mais caro do que produzir um leitor”.
Os dados e informações de base para esta e as demais conclusões e análises do trabalho dos autores são retirados da pesquisa sobre a produção e as vendas do setor editorial brasileiro, fornecida, desde 1992, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Todavia, também aqui não há chance de rendição ao otimismo: “Esses dados devem ser vistos com cuidados, pois um dos mais bem informados de nossos entrevistados afirmou que as editoras em má situação costumam ‘dourar a pílula’ e escondem seus problemas”.
Igualmente convidado pela Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio, o gerente executivo do SNEL, Antonio Laskos, realizou também uma palestra sobre o assunto. Com os mesmos dados fornecidos pela pesquisa do SNEL, Laskos mostrou-se bastante confiante e otimista ao afirmar que, se comparado com outros países, o custo do livro no Brasil não é de forma alguma caro. Concordou, no entanto, que falta poder aquisitivo e, sobretudo, uma “cultura leitora”, no sentido não só de estimular o público leitor já existente, como também, e mais importante ainda, de criar novos leitores. Sá Earp e Kornis, por sua vez, comparam o índice de capacidade de compra de livros no Brasil com o de outros países, já considerando, em seu cálculo, o preço relativo do livro, isto é, a renda per capita dividida pelo preço médio absoluto do livro. E concluem: “Os livros brasileiros são bastante caros, ficando em companhia dos alemães e belgas, mas ainda bastante mais baratos do que os chineses e mexicanos, os mais caros do mundo em termos relativos”. No final das contas, a conclusão não deixa de ser a mesma de Laskos: o livro (barato, em termos absolutos, mas caro em termos relativos) está fora do alcance da população de baixa renda, que, no caso do Brasil, compõe importante fatia da estrutura econômica nacional.
Com grande razão, Sá Earp e Kornis são também categóricos ao afirmar que o negócio do livro não é compatível com o tamanho da economia brasileira. Antonio Laskos parece concordar, ao comparar os números de faturamento e venda do livro com o do mercado floricultor no país, por exemplo, a fim de demonstrar o quanto a prática do negócio do livro ainda está aquém do seu potencial.
A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/48.pdf), realizada pelo Instituto Pró-Livro e apresentada por Antonio Laskos, conclui que o consumo de livros cresce conforme renda e escolaridade. Há, portanto, ainda, grande margem para o crescimento do público consumidor do livro. Um exemplo disso são os números do “varejo oculto: a venda porta-a-porta”, segundo Sá Earp e Kornis, aspecto que Antonio Laskos também destaca: “Esse segmento da cadeia do livro, também chamado de venda direta, é quase inteiramente desconhecido, mas se constitui no mais importante gerador de empregos. Enquanto todo o setor editorial emprega pouco mais de 20 mil pessoas, os vendedores porta-a-porta são no mínimo 30 mil, podendo chegar a 50 mil”. “O público-alvo são os consumidores de baixa renda, as famosas ‘classes D e E’, que fazem praticamente todas as suas comprar a crédito [...]. Os livros são baratos porque seus custos editoriais e gráficos são muito baixos (pois o consumidor não é exigente) e porque as tiragens são altas – nunca menores do que cinco mil exemplares”.
Em um momento em que muito se discute sobre a inserção do país na era dos livros digitais, as falas de Antonio Laskos e de Fábio Sá Earp e George Kornis apontam, antes de tudo, para um extenso caminho a ser percorrido em busca de uma política de incentivo e de formação de leitores, a fim de que a enorme economia de mercado brasileira possa se ver refletida na ampliação e no desenvolvimento da economia do livro, com número crescente de consumidores e, por que não?, de apaixonados por livros.
Referências Bibliográficas:
SÁ EARP, Fábio; KORNIS, George. A economia da cadeia produtiva do livro. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2005a. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2010.
______. A economia do livro: a crise atual e uma proposta de política. Série Textos para Discussão. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de Economia, 2005b. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2010.
Obs.: As citações a Antonio Laskos foram feitas com base no conteúdo apresentado por ele em palestra realizada na Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio, no dia 15 de abril de 2010, para os alunos do curso de pós-graduação “A Produção do Livro: Do Autor ao Leitor”.
Curso: A PRODUÇÃO DO LIVRO: do autor ao leitor
Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio
Aluna: Maria Eduarda de Oliveira Costa, turma 2009.2
Módulo: O negócio do Livro – profa. Elisângela Alves
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