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terça-feira, 4 de maio de 2010

Três profissionais do livro e dois dedos de prosa

Pedro Fortunato* escreveu dois livros por uma grande editora brasileira. Liana Abrantes* gerencia, pelo que pude entender, o setor de copidesque e revisão dessa editora. Helena Müller*, por sua vez, faz projetos gráficos para diversas editoras.

Fortunato é herdeiro de um certo jornalismo literário da saudosa revista Realidade (que por sua vez agregava profissionais querendo experimentar abaixo da linha do Equador o que Gay Talese, Tom Wolfe e Truman Capote já haviam consagrado como Novo Jornalismo nos EUA na década de 1950 e início da década de 1960). Profissional experiente, passou pela mídia impressa e televisiva, imprimindo autoria bem particular na construção de sua trajetória. Como autor, mostrou-se diferenciado pela preocupação com o processo de produção do livro, algo não muito comum entre os escritores. Cuidados como o ponto de vista da narrativa, as escolhas para construir verossimilhança, e, mais que isso, seduzir o leitor, são constantes no que se pôde verificar em sua fala. Não tive dúvida de que estava diante de um verdadeiro profissional do livro. Nenhuma ingenuidade. Que mal há, afinal, em aliar competência, estilo e, por que não, uma maneira de seduzir desde as primeiras linhas o leitor? Se se escreve um livro, ele deve ser lido! Vendido, pois!

Palmas para o Fortunato, aprendamos com ele.

Abrantes me assusta. São mais de 30 anos trabalhando com revisão de livros, seja metendo a mão na massa seja cuidando para que outros, sob sua supervisão, o façam. Sua fala parece ser desajustada com seu pensamento, pouco se compreende daquilo que parece formular. Sua fala claudica porque seu pensamento parece claudicar. Será alguma espécie de afasia, será nervosismo por falar em público? As duas coisas? Nenhuma das duas? O que seria aquilo afinal? Um breve encontro foi muito pouco para saber ao certo o quereria dizer aquela profissional que, certamente, tem competência. Ninguém ficaria tanto tempo no mercado, se incompetente fosse. Mas, o certo, é que, pelo que ela conseguiu mostrar no desempenho da sua fala, a decepção foi minha. Fiquei pensando naquilo que tanto ela, saudosa, se ressentia nos leitores contemporâneos: “Os leitores eram contemplativos!” Será que de tão contemplativa, Abrantes tem dificuldade de intervir no biopsicossocial do mundo? Se for esse o caso, não será o caso de se ter o cuidado de não a convidar para encontros como esse? O tetê-à-tête talvez seja o segredo. Serei obrigado, provisoriamente, a me contentar com o mistério.

Müller é uma profissional experiente. Conhece o seu métier. Sabe de suas limitações, e tira partido disso. Estabelece caminhos variados para desenvolver seus projetos gráficos. Parece transitar habilidosamente pelos cômodos nem sempre confortáveis em que habitam os partícipes da produção editorial. Gostaria de, sem nenhuma dúvida, conhecer mais profissionais desse calibre.


* As personagens do texto aparecem sob pseudônimo, por conta de juízos de valor apontados, aqui e ali, desfavoráveis. São-me caras, em vez disso, as reflexões que podem ser feitas sobre as falas por elas produzidas.

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O encontro com Teodoro Koracakis foi-me muito produtivo. Saber, por exemplo, das ingerências editoriais na obra de Sérgio Sant'Anna foi algo enriquecedor. Ajudou a desmitificar uma certa visão idealizada a respeito de autores que produzem literatura canônica. Observar o produto livro a partir da ótica do editor é uma experiência singular. Suas escolhas, as consequências de seu planejamento (ou falta de) na composição mercadológica da editora auxiliam a construir o mosaico, parece sempre incompleto, da cadeia produtiva do livro.

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