Por Duda Costa
Muitos dos que, ao contrário desta que ora escreve, estiveram presentes na palestra do economista Fábio Sá Earp realizada na Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio no dia 13 de abril de 2010 destacaram, como aspecto geral da sua interessante abordagem, um tom, digamos, pessimista em relação ao negócio do livro no Brasil.
Em trabalho publicado em 2005, Fábio Sá Earp e George Kornis (2005) são categóricos ao afirmar que o “problema básico da economia do livro é [...] um descompasso entre a imensa oferta global e a limitadíssima capacidade de absorção do consumidor individual”. E parece ser esta a chave a abrir e fundamentar a sua pesquisa: a identificação do(s) problema(s) do negócio do livro em nosso país.
Para explicar este impasse inicial de que a oferta e a demanda do livro estão longe de ser equilibradas, os autores apresentam duas razões. A primeira: “o livro é um bem muito barato de se produzir”. A segunda: “não há nada mais caro do que produzir um leitor”.
Os dados e informações de base para esta e as demais conclusões e análises do trabalho dos autores são retirados da pesquisa sobre a produção e as vendas do setor editorial brasileiro, fornecida, desde 1992, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Todavia, também aqui não há chance de rendição ao otimismo: “Esses dados devem ser vistos com cuidados, pois um dos mais bem informados de nossos entrevistados afirmou que as editoras em má situação costumam ‘dourar a pílula’ e escondem seus problemas”.
Igualmente convidado pela Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio, o gerente executivo do SNEL, Antonio Laskos, realizou também uma palestra sobre o assunto. Com os mesmos dados fornecidos pela pesquisa do SNEL, Laskos mostrou-se bastante confiante e otimista ao afirmar que, se comparado com outros países, o custo do livro no Brasil não é de forma alguma caro. Concordou, no entanto, que falta poder aquisitivo e, sobretudo, uma “cultura leitora”, no sentido não só de estimular o público leitor já existente, como também, e mais importante ainda, de criar novos leitores. Sá Earp e Kornis, por sua vez, comparam o índice de capacidade de compra de livros no Brasil com o de outros países, já considerando, em seu cálculo, o preço relativo do livro, isto é, a renda per capita dividida pelo preço médio absoluto do livro. E concluem: “Os livros brasileiros são bastante caros, ficando em companhia dos alemães e belgas, mas ainda bastante mais baratos do que os chineses e mexicanos, os mais caros do mundo em termos relativos”. No final das contas, a conclusão não deixa de ser a mesma de Laskos: o livro (barato, em termos absolutos, mas caro em termos relativos) está fora do alcance da população de baixa renda, que, no caso do Brasil, compõe importante fatia da estrutura econômica nacional.
Com grande razão, Sá Earp e Kornis são também categóricos ao afirmar que o negócio do livro não é compatível com o tamanho da economia brasileira. Antonio Laskos parece concordar, ao comparar os números de faturamento e venda do livro com o do mercado floricultor no país, por exemplo, a fim de demonstrar o quanto a prática do negócio do livro ainda está aquém do seu potencial.
A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/48.pdf), realizada pelo Instituto Pró-Livro e apresentada por Antonio Laskos, conclui que o consumo de livros cresce conforme renda e escolaridade. Há, portanto, ainda, grande margem para o crescimento do público consumidor do livro. Um exemplo disso são os números do “varejo oculto: a venda porta-a-porta”, segundo Sá Earp e Kornis, aspecto que Antonio Laskos também destaca: “Esse segmento da cadeia do livro, também chamado de venda direta, é quase inteiramente desconhecido, mas se constitui no mais importante gerador de empregos. Enquanto todo o setor editorial emprega pouco mais de 20 mil pessoas, os vendedores porta-a-porta são no mínimo 30 mil, podendo chegar a 50 mil”. “O público-alvo são os consumidores de baixa renda, as famosas ‘classes D e E’, que fazem praticamente todas as suas comprar a crédito [...]. Os livros são baratos porque seus custos editoriais e gráficos são muito baixos (pois o consumidor não é exigente) e porque as tiragens são altas – nunca menores do que cinco mil exemplares”.
Em um momento em que muito se discute sobre a inserção do país na era dos livros digitais, as falas de Antonio Laskos e de Fábio Sá Earp e George Kornis apontam, antes de tudo, para um extenso caminho a ser percorrido em busca de uma política de incentivo e de formação de leitores, a fim de que a enorme economia de mercado brasileira possa se ver refletida na ampliação e no desenvolvimento da economia do livro, com número crescente de consumidores e, por que não?, de apaixonados por livros.
Referências Bibliográficas:
SÁ EARP, Fábio; KORNIS, George. A economia da cadeia produtiva do livro. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2005a. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2010.
______. A economia do livro: a crise atual e uma proposta de política. Série Textos para Discussão. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de Economia, 2005b. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2010.
Obs.: As citações a Antonio Laskos foram feitas com base no conteúdo apresentado por ele em palestra realizada na Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio, no dia 15 de abril de 2010, para os alunos do curso de pós-graduação “A Produção do Livro: Do Autor ao Leitor”.
Curso: A PRODUÇÃO DO LIVRO: do autor ao leitor
Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio
Aluna: Maria Eduarda de Oliveira Costa, turma 2009.2
Módulo: O negócio do Livro – profa. Elisângela Alves
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