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terça-feira, 20 de abril de 2010

Cadeia produtiva do livro: pessimismo, otimismo e ocultamentos

As falas do Fábio Sá Earp e do Antonio Laskos proferidas – respectivamente nos dias 13 e 15 últimos, na Cátedra Unesco de Leitura – são bons exemplos dos lugares e tempo ideológicos que representam. O primeiro, economista; o segundo, estatístico. Enquanto Earp está investido da autoridade acadêmica e, óbvio, da sua trajetória profissional como consultor e prestador de serviços tanto ao Estado quanto à iniciativa privada, Laskos desfruta da aura de homem de números exatos, a serviço da ciência pura, e, portanto, capacitado a fornecer informações precisas ao SNEL (Sindicato Nacional de Editores de Livros), entidade que representa. Investem-se os dois de autoridade suficiente para falar de um assunto comum, o livro e o seu lugar no mercado. Em convergência, os números com os quais trabalham; em divergência, a interpretação que fazem deles. O recorte que fazem assegura aos dois características singulares nas verdades que precisam e querem construir. Aos ouvintes, personagens também representantes de lugares e tempo ideológicos também singulares, caberá a estimulante tarefa de selecionar e relacionar informações à guisa de sobrevivência no espaço social que ocupam ou pretendem ocupar.

Na fala dos dois, ocultamentos precisam ser preservados. No discurso pessimista de Earp revelou-se por provocação da assistência uma informação envergonhada. As retiradas são contabilizadas como despesas e não como lucro, que, em regra, quase não existe! Será preciso passar-se por setor frágil para se manter no jogo do mercado? Ou a iniciativa privada brasileira faz o discurso conveniente ao interlocutor da vez, mesmo correndo o risco de mostrar-se contraditória? Em que momento a intervenção do Estado é interessante, em que momento é dispensável?

Laskos, por sua vez, quer oferecer otimismo. Parece ver o mercado como um cheque pré-datado, virtualmente potente, mas que, de fato, ainda vai acontecer. Somos o país do futuro afinal, e nesse discurso cabem promissoras tecnologias digitais, com recursos nunca antes pensados na história deste país! Bem, esse já é um outro discurso! Devemos sorrir para esse país do futuro, mas também deveríamos cuidar desse mercado ainda muito mal entendido dos livros impressos, em toda a sua cadeia produtiva. Tantos ocultamentos fazem-nos, alunos, especular que uma fração desse desconhecimento é conveniente para, pelo menos, parte de seus agentes. A História nos mostra que o Estado já cobriu dívidas de editoras, e ainda é um seu comprador de substância, para manter boa parte das editoras nacionais.

A falta de clareza de como funciona a cadeia produtiva do livro no Brasil constitui um problema para quem é novo e quer se estabelecer no mercado. As grandes empresas editoriais brasileiras passam também por uma reformulação. Algumas são compradas, parcial ou integralmente por multinacionais, sobretudo as espanholas. Outras ainda procuram manter-se encasteladas em suas rotinas, para que “o pulo do gato” não seja revelado, e seus privilégios (até quando?), de alguma maneira, sejam mantidos. Poucas parecem ter acordado para uma verdadeira modernização desse mercado, mas já capacitam seu material humano, além, claro, de investir em novas tecnologias. Tudo diferente disso concorre para uma miopia de mercado, que só o estagna em seu aparente conforto.

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