Impressões sobre a palestra do economista Fábio Sá Earp
O mercado do livro é caleidoscópico. Dependendo de que ângulo é observado, toma as mais variadas formas, adquire as mais diferentes cores, aponda para múltiplos caminhos. O Grupo Editorial Record, onde trabalho, é completamente diferente da editora Aeroplano, objeto da pesquisa de meu grupo no módulo passado (Linhas Editoriais), que é diversa da Pallas, ou da Objetiva, todas estas objetos de nossos estudos. Então o que é o mercado editorial brasileiro? É tudo isso e tantas vezes maior quantas forem as editoras, livrarias, distribuidoras, bibliotecas, programas de distribuição do livro pelo governo e outras variantes mais. É de fato um mercado complexo, entendido por poucos (se é que há quem o entenda) e muito, muito imprevisível. Daí a importância da pesquisa sobre a economia da cadeia produtiva do livro, apresentada pelo economista Fábio Sá Earp.
Ela traz uma mostragem diversificada, porém classificada, dos segmentos e, por conseguinte, mostra as perspectivas e as dificuldades da navegação por estes mares. E aproveitando a ilação com o mar, mostra a importância da compreensão da leitura das estrelas, da necessidade da bússola e da decodificações destes sinais em busca de um porto seguro.
Tenho tido a oportunidade de presenciar um grande número de encontros editoriais, livreiros, do mercado como um todo, e à do economista Earp, outras se juntam. Como ela, apontam para a facilidade de se criar editoras, da dificuldades para mantê-las, do baixo número de livrarias e de sua concentração na região Sudeste (mas felizmente apontam para um crescimento, além da região Sul, da região Nordeste também), da baixa média de leitura no Brasil, do enorme abismo escolar - que bem ou mal, vem-se tentando escalar -, enfim, uma análise que pode parecer preocupante. Mas se o é por uma ótica, pode ser promissora por outra.
E esta outra ótica, a otimista, deveria ser observada por nós, estudantes deste mercado. É a perspectiva da oportunidade.
Como se pode ver na pesquisa, o Brasil, se tem menos de vinte milhões de leitores de livro atualmente, tem um público potencial que se aproxima dos 90 milhões. Daí a vinda em massa das editoras estrangeiras, com ênfase no grande número de espanholas. Ora, é fantástico para um país, tomemos o caso da Espanha, que a média de leitura seja de oito, nove ou mais livros/ano, que as pessoas passem um enorme tempo de suas vidas lendo livros. Porém, e nós que somos bons leitores sabemos, há um momento que não há mais tempo de ler mais livros. Mesmo querendo muito ler mais, somente podemos ler um número limitado de livros por mês, por que temos que destinar tempo para nossas outras atividades. Assim é quando se gosta muito de ler. E assim é nestes mercados: a demanda é saturada, pois os leitores já lêem muito e não têm como ler mais. Isso não acontece aqui. Lê-se tão pouco que há muito espaço para aumentar as margens de leitura, lê-se tão pouco que o governo precisa subsidiar a leitura, lê-se tão pouco que não é dificil que se passe a ler mais um pouco.
Daí a importância da profissionalização do mercado. Mas não devemos nos iludir achando que ele não é profissionalizado em nosso país. Em muitos lugares ele é, é muito, e exige muito dos seus quadros. A importância da análise destes dados apresentados pelo economista Fábio Sá Earp - menos enraizada no lugar-comum e no pessimismo e mais atenta à grande possibilidade que se apresenta a quem pretende entrar, conhecer e desempenhar um grande papel não somente no mercado editorial, mas na democratização do conhecimento e do saber no Brasil.
Cátedra UNESCO de Leitura PUC - Rio
Aluno: Sérgio França, turma 2009.2
Módulo: O negócio do Livro – prof. Elisângela Alves
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