Por Taís Facina*
A história nos mostra que quando as novas tecnologias chegam, são para ficar. Não há como escolher se a queremos ou não, se vamos permanecer com os velhos métodos ou aderir aos novos, somos invadidos por elas. Podemos, particularmente, escolhermos não usar uma delas, como um telefone celular, por exemplo. Mas não há dúvidas que ele invadiu as nossas vidas, dominando a vida profissional e pessoal, de adultos e de crianças. E até salvando vidas, ao ser usado por um pedreiro que caiu de um precipício em São Paulo para chamar os bombeiros ou por um homem nos escombros do World Trade Center para dar sua localização exata. Então, querendo ou não, vamos ter que usá-lo um dia e até vamos agradecer por conseguirmos localizar um pessoa em algum momento difícil de nossas vidas.
Por isso, ao nos depararmos com essas novidades tecnológicas, não cabe a discussão sobre se elas são boas ou ruins, se substituem ou não tecnologias anteriores, como defende o filósofo estudioso do assunto Pierre Lèvy. Mas sim nos cabe pensar sobre que uso podemos fazer da invenção em questão.
Assim, em face aos iPad, Kindle, Sony Reader e demais aparelhos digitais de leitura que surgem cada vez mais rápida e aprimoradamente, por que pensarmos em se vai ser ou não o fim do livro? Temos que pensar, sim, em que formato vai ter o livro daqui por diante, de que maneira podemos aproveitar tais tecnologias para deixar o livro ainda mais atrativo e como essa nova forma de se transmitir informações vai interagir com a sociedade.
Pensando não como leitora, mas como profissional do mercado, não me assustam as novas perspectivas. A importância do editor, do revisor, do designer gráfico e de todos os demais profissionais que trabalham para a existência de um livro não tem relação direta com o formato no qual o mesmo é produzido. Todos esses trabalhadores continuarão a existir e a desempenhar seu papel fundamental no processo editorial. O surgimento dos computadores e, principalmente, dos softwares de diagramação, como o já obsoleto PageMaker, por exemplo, acabaram sim com os antigos ilustradores que faziam as páginas dos jornais por meio de um trabalho artesanal de corte e colagem de letras, blocos de texto e figuras. Mas também criou novos designers, ou modernizou os que conseguiram se adaptar às novas tecnologias, contribuindo para a evolução do conceito de diagramação existente até então. Assim, o trabalho do diagramador em um jornal sempre existiu e continua a existir, o que mudou foram as ferramentas utilizadas e a forma de se fazer o trabalho.
Por isso, acredito que pensar no fim do livro é uma questão de menor relevância no momento atual. Pode ser que ele acabe sim, da forma como o vemos hoje, e é muito provável que sim. Mas, quando chegar essa hora, talvez já nem nos importemos mais. Ou talvez quem veja esse fim não sejamos nós, mas sim nossos descendentes, já tão acostumados aos novos meios que nem perceberão o fim do livro. Afinal, depois que o aparelho de DVD foi lançado e barateado a ponto de todos poderem adquiri-lo, ninguém lamentou o fim do videocassete... O importante mesmo é que tanto os profissionais do livro como os leitores não ficarão desprovidos do mundo mágico das letras. Com certeza encontraremos diversas maneiras de produzir, vender, garantir direitos autorais e sanar todas as demais preocupações que enchem nossas cabeças atualmente, sem abrir mão desse instrumento transportador de sonhos, ideias, saberes e conhecimento que é o livro.
* Jornalista, editora e revisora de livros, e pretensa futura escritora
(para o módulo O Negócio do Livro, do curso de pós-graduação A Produção do Livro: do autor ao leitor)
Nenhum comentário:
Postar um comentário