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terça-feira, 20 de abril de 2010

Duas palestras e um autor sem voz

(Carlos Eduardo Ferreira Guimarães*)

Na semana passada, a Cátedra da PUC recebeu dois representantes – Fábio Sá Earp e Antonio Laskos – na tentativa de melhor explicar o chamado “negócio do livro”. Earp e Laskos expuseram prós e contras de um universo que, até segunda ordem, é para poucos; o que não deixa de ter um quê de contradição quando pensamos em livros e cultura em geral como elementos originalmente gratuitos e básicos para a evolução de uma pessoa, um grupo ou uma sociedade.

Esqueçam o lado romântico. É um negócio, tão lucrativo ou espinhoso quanto abrir uma academia de ioga, uma banquinha de sucrilhos ou vender armas para o Talibã. Possui índices, cotações, está sujeito a crises e picos de expansão, ações e reações de governos, e certamente reza pela cartilha segundo a qual não existe almoço grátis (lá em casa, aliás, existe, mas certamente não para a maioria dos editores tupiniquins e estrangeiros...).

Dirá o autor: “Malditos sejam esses economistas, estatísticos e seus números!!! Eu quero publicar meu livro porque eu gosto de escrever! Eu quero ter um dilúvio de feedbacks e um maelström de críticas quando meu livro for publicado!!!”. Que pena. É um negócio, e não uma casa de caridade. Apesar de editores e demais profissionais do setor terem afinidade (i.e. tino comercial) com os mais dispares autores – sejam estes magos-arroz-de-festa ou adolescentes-ratos-de-shopping –, tiros no escuro estão proibidos. Na melhor das hipóteses, reze para que o governo compre seus livros.

De fato, mui chateado ficará o autor ao saber que boa parte dos lucros de muitas editoras termina contabilizada em gastos “pessoais” do editor, aumentando a imagem daquilo que se convencionou chamar “executivo-editor”, uma espécie de Roberto Justus versão livreiro. Pior: um executivo que não raro choraminga por causa de alguma crise do mercado mas que, por uma dessas matemáticas da economia globalizada, não vai parar numa pensão de quinta no Centro.

Ao analisar o que foi dito por Earp e Laskos, este vosso humilde escriba tem a impressão de estar no filme “Um Lobisomem Americano em Londres”, de John Landis. Mais precisamente na cena em que os dois protagonistas perambulam por um campo nebuloso à noite, sem noção de onde estão ou do que os rodeia. Mas certos de que boa coisa não é.


* Carlos Eduardo Ferreira Guimarães
é jornalista, escritor e aluno do curso de "Produção Editorial", pós-graduação da PUC-Rio.

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